quinta-feira, 11 de junho de 2009

O hospital público, a literatura e o cinema

Entrando pelo pequeno portão de ferro, tive o prazer de ver uma kombi-ambulância que parecia ser cenário de um filme da Segunda Grande Guerra. Toda verde musgo, as janelinhas pintadas de branco com uma cruz vermelha e a sirene em cima que parecia de brinquedo. O pátio externo do hospital assemelhava-se a uma cena de Rubem Fonseca: viaturas policiais, PMs alertas de arma na mão. Mais à frente do pronto-socorro estavam o prédio em reforma estática (isso lembra-me Realismo Fantástico) que abrigava os quartos para estadias mais longas. O saguão da recepção me lembrou alguns cômodos Dostoievskianos, a economia de móveis balanceada pela quantidade de funcionários públicos que estão ali apenas para serem funcionários públicos.
Subimos o elevador, 3º piso. O corredor, se houvesse mais leitos e materiais para abrigar enfermos ali mesmo, pareceria ao da primeira cena de Invasões Bárbaras. Mais funcionários conversando. No quarto em que minha tia-avó ficava, as camas assemelhavam-se a filmes manicomiais do começo do século passado. Camas de ferro grosso já mastigadas pela ferrugem, um cheiro fortíssimo de álcool com um não-sei-o-quê que me deixou enjoado mesmo depois de almoçar, jantar, etc - talvez seja o famoso Cheiro do Ralo.
-Oi, meu filho, que bom que vocês vieram. A tia tá mal, olha, não pára de vomitar.
- Tia, pense pelo lado bom. Se esse hospital é de urgência e a senhora ainda não foi operada, quer dizer que não está tão ruim assim.

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